Desejo a todos os leitores deste blog um Feliz Natal
e um maravilhoso ano de 2009.
Nada me cansa no rio ou no mar
Não tenho para onde voltar
Mas meu olhar está perdido na busca de tua imagem
No rio
Aprender com palavras sinceras as histórias daqui
Passear na superfície do espelho refletindo o fundo
Do céu
esperar o mergulho
Respirar com os botos a cada subida
Purificando a alma da poluição
Correndo em veias
E em veios
Como doem os ossos
Vem de dentro
da floresta
Com os peixes pra cima
É tempo de reprodução
cortas ao meio o meu coração e o da cidade
E quando invades casas
Procurando largo abrigo
Sofro com tua pequena poesia
A inocência dos premeditados
Não tens calado
Escuto o silencio de tua ausência
Correndo
Caindo
Gota a gota rumo a foz
E a menina que espera
Cresce e a inocência
Vira intolerância
Pois é triste não ter mais com quem brincar no rio
todas as lembranças serão reencontro
Toda curva o mesmo lugar
Cada margem
Um outro lado
as lágrimas
Escorrem pelo esgoto do mercado
E no fundo sinto a lama que me prende
E já não posso andar
Nadar
Voar
Quero dormir
Acordar do encanto
há tempo de partir
outro porto
a vida como o rio é bela
navegar...
Até a vista...
As sereias voltaram a cantar...
26 de novembro de 2008.
Silvio Margarido
Fotografias de Talita Oliveira
Vou escrever, a partir de hoje, algumas considerações e constatações sobre o processo de realização do documentário O Mergulho. Serão textos breves que procurarei mostrar as minhas impressões pessoais sobre todas as fases de construção do Documentário.
O Mergulho – da pré à foz.
A idéia original
Antes era o verbo. E o verbo disse... Faça-se a luz. Ação!
Amanhece o dia e eu pego minha mini-dv e vou até o rio Acre para uma primeira observação. Era o final do verão e algumas pequenas chuvas haviam desabado naqueles dias. Ainda no ônibus pensava no estado de degradação em que se encontrava o rio. Seco, vazio de água, mas repleto de lixo temperado pelo esgoto. Veio logo a vontade de pegar pesado na denuncia, campanhas de salvamento e outros arroubos ambientalista. Como podemos deixar o rio morrer? Ou pior ainda, estamos matando o rio.
Quando cheguei na margem do rio me senti estranho, estava furioso e de repente com a proximidade, a água correndo, barcos passando, pessoas nas pontes contemplando, aos poucos uma sensação de paz e prazer tomou conta e ali naquele momento tive contato com um rio que há muito eu não visitava. A memória foi a passagem que usei para viajar por praias, igarapés, com pescadores, catraieiros, meninos pulando da ponte. Percebi o quanto eu havia me distanciado do rio. Percebi que o rio estava morrendo era dentro de mim. Eu não reconhecia mais aquele rio, foi como um reencontro.
Este foi um momento de lúcida manifestação espiritual do rio na minha vida e principalmente no momento em que estava preparando a gravação de um documentário cujo personagem principal é o rio Acre. Outras tantas coincidências aconteceram, revelando aos poucos um rio bem diferente do que eu conhecia e do que eu imaginava conhecer. E tive um momento de grande esperança no processo ao me deparar cada vez mais com um rio vivo, muito vivo, embora maltratado. Mas as forças da natureza se encarregam de dar sempre um novo caminho, uma nova volta, um lago. O rio parece ser o maior veiculo de renovação da vida há muito tempo. Acho que o amor, o carinho, o encanto pelo rio não pode ser tratado somente com um discurso panfletário de que temos que salvar o rio que ta morrendo ou populista tipo... é assim mesmo, é ot progresso, etc... ou então aquele romantismo de que a cidade virou de costas pro rio. Um olhar um pouco mais atento e deixando aflorar as lembranças e desfrutando o prazer que a imagem do rio nos transmite seria um ótimo remédio para essa empatia.
O problema do rio Acre é o problema afetivo da população em relação a ele. Como me disse o Antônio Alves, este rio está se tornando um rio subterrâneo, muitos passam todos os dias sobre ele e não o vêem.
Silvio Margarido – 09/12/2008.
Talita Oliveira
O Mergulho, documentário vencedor da edição 2008 do Programa DOCTV, entra em sua última semana de filmagem
O MERGULHO
Uma pequena mostra do nosso mergulho nas duas semanas de trabalho.
então vamos apreciar o rio. afinar os os ouvidos e limpar os olhos...
Eu, Pedro e Assis preparando um mergulho...
Sobre os olhares de Dona Maria Juliar e Senhor Edson. Velhos moradores do rio...
E assim, também, os vimos e ouvimos histórias de embarcados
Enquanto recordavamos com Helio o velho rio...
as maquinas chegaram para a construção de mais uma nova ponte...
de onde eles resolver pular...
e relembram diante de varios olhares...
o que fábio gostaria de não ter acontecido...
as crianças podem nos ensinar que os mergulhos são brincadeiras...
levadas a sério...
fotografias de Val Fernandes
Rema
nada
pra beira
que o banzeiro da cobra
embaixo do balseiro
pode balançar o barco
essa água tá correndo muito ligeiro
corre logo aqui
catraieira
não dá mais pra pescar
o boto cor de rosa tá querendo tomar
meu peixe
e namorar uma morena
será que dá pra pular
eu sei nadar
de bubúia...
até a outra ponte
ah...
deixar rolar
por onde o rio passar
*Inspirado em Pia Vila e Grupo Capú.
Seria o nosso primeiro dia de gravações no rio. Eu não estava muito a vontade, um streezinho na noite anterior me fez dormir muito pouco. Assis e Neovan, os câmeras, com dois assistentes, Sergio e Talita cuidando do café e mais dois novos companheiros se juntavam a equipe: a footógrafaVal Fernandes, e o técnico de som Pedro de Sá. Pedro é uma novidade recentemente importada do Rio de Janeiro, e é um novo jeito de produzir que não estamos acostumados... Silêncio pessoal que agora estamos gravando um som de primeira!!
Equipe do MERGULHO esperando o batelão
Às 6 horas saimos ao ponto na Gameleira, próximo a bandeira, onde o batelão do sr. Edilson nos esperava.
-E aí Sr. Edilson?
-Vou só comprar o combustível!
No barco uma pequena conversa sobre o que seria o dia. Meu desconforto em começar um trabalho que já ha muito tempo tenho " ralado " parece que não foi percebido. Mas, vamos lá... agostaria mesmo era de não falar nada. Quando teremos desenvolvidos a capacidade de telepatias? Mas...
É o rio, água que corre e suas margens com barcos estacionados, as casa com suas privadas despejando no rio, pessoas trabalhando, etc... vamos lá... claquete! Que porra é essa? Ah é invenção dos cineastas profissiopnais pra não se perderem nas sequências que serão filmadas. Camera A, Camera B, sem monitor... Isso vai da merda. Já basta o strees de ontem... Enquadra assim.,faz movimentos assados... Silêncio pro Pedro gravar o ambiente. Putaquipariu, é só barulho de motor...
Mas enfim... ao meio dia já estavamos na foz, como dizemos por aqui, na boca do Riozinho do Rôla. Acho que vai chover... beleza... tempos uma chuva no vídeo... lá vai o Sergio de barranco abaixo... Ih! o Pedro também.
O pessoal parece que gostou da galinha caipira... Comí só feijão com arroz... Tô evitando carnes...
Banho nas agua barrentas...
Eu, por mim, me dou por satisfeito...
Tá só começando.
Fotos: Val Fernandes
O Cara fica o tempo todo fotografando os outros e ninguém faz uma foto dele?
Um grande amigo e colaborador nesse processo foi o Dhárcules Pinheiro.
A foto é minha, que não sou lá um grande fotografo, mas aí vai...
Foto de Silvio Margarido
Estamos chegando no final de umas das etapas da realização de "O Mergulho".
A Equipe foi ótimo, o empenho foi total e graças a Deus estamos concluindo
esta parte para iniciar as gravações.
Agradeço a todos e espero que tudo continue correndo bem como foi até aqui.
A équipe era formada por Silvio Margarido,Talita Oliviera, Sergio Carvalho, Mira Margarido, Dharcules Pinheiro, Neovan e
Assis Freire, além dos amigos e funcionários da VT Produções.
Esta foi nossa pequena equipe nesses dias...
Eu, Talita ( Assistente de Produção) e Sergio ( Diretor de Produção).
Mira Margarido na pesquisa
Talita (Produção), Neovan (Betacam) e Assis Freire (HDV)
Sergio Carvalho nosso Diretor de produção
A Equipe na nossa pequena sala na VT produções...
Todas as fotografias acima são do fotografo Dharcules Pinheiro.
Momento de reencontro entre velhos amigos. Elissandro e Fábio deram um
mergulho para o desconhecido. Fábio encontra-se imobilizado em cima
de uma cama sendo cuidado pela mãe. Estranhamente uma tatuagem em seu
braço mostra o seu atual momento...
Foto de Dhárcules Pinheiro
Como uma serpente o rio cruza a cidade. Ou foi a cidade que crruzou o seu caminho?
Rio Branco cresceu muito nos ultimos 30 anos e este crescimento trouxe para o rio uma nova
realidade...
Acervo do Departamento de Patrimônio Histórico - FEM
Fábio foi um dos três jovens que saltaram da ponte no rio.
Este mergulho trouxe consequências trágicas para ele, mas não é só o sofrimento
que está escrito em seus olhos.
Foto de Darhcules Pinheiro
Assis Freire, Diretor de Fotografia experimenta com sua HDV.
A pesquisa com duas câmeras diferentes nos deu a segurança para escolher...
Estamos entre A Sony HDV e Betacam... Optamos pela Beta.
Fotos de Darhcules Pinheiro
Abrahim e Silvio
Abrahim e Adão
Foto de Talita Oliveira
Descendente de Árabes, Abrahim Faraht também fala sobre a memória do rio.
Dos regatões, das brincadeiras de criança e da Cobra Grande... Poesia.
Foto Mira Margarido
Este casal já morou dentro do rio, como eles dizem, embarcado. Depois de anos
morando nas margens vão ter que sair para dar ligar a mais uma ponte.
Lindo momento de carinho entre mãe e filhos no rio Acre
Robecí Gomes Castelo e sua família vêm toda semana trazer a produção de
frutas e legumes, produzidos em sua colônia no Catuaba, para vender nas
margens do rio, próximo ao mercado.
Fotos de Talita Oliveira
No sábado saimos para mais uma pesquisa e como sempre tem acontecido,
novos personagens tem se apresentado para o Mergulho.
Vista das pontes no centro da cidade
Equipe caminhando pelas ruas do bairro Cidade Nova
Luis Avelino é catraieiro ha 11 anos na Cidade Nova
Rosangela Martins, catraieira, pescadora, ribeirinha... o rio é o seu sustento e
sua vida.
As casa pendem no barranco... a qualquer momento, com a alagação, elas podem
também fazer o seu mergulho...
Infelizmente este também é um dos nossos personagens
O Rio Acre e o símbolo da nossa terra...
Fotos: Dhárcules Pinheiro