Vou escrever, a partir de hoje, algumas considerações e constatações sobre o processo de realização do documentário O Mergulho. Serão textos breves que procurarei mostrar as minhas impressões pessoais sobre todas as fases de construção do Documentário.
O Mergulho – da pré à foz.
A idéia original
Antes era o verbo. E o verbo disse... Faça-se a luz. Ação!
Amanhece o dia e eu pego minha mini-dv e vou até o rio Acre para uma primeira observação. Era o final do verão e algumas pequenas chuvas haviam desabado naqueles dias. Ainda no ônibus pensava no estado de degradação em que se encontrava o rio. Seco, vazio de água, mas repleto de lixo temperado pelo esgoto. Veio logo a vontade de pegar pesado na denuncia, campanhas de salvamento e outros arroubos ambientalista. Como podemos deixar o rio morrer? Ou pior ainda, estamos matando o rio.
Quando cheguei na margem do rio me senti estranho, estava furioso e de repente com a proximidade, a água correndo, barcos passando, pessoas nas pontes contemplando, aos poucos uma sensação de paz e prazer tomou conta e ali naquele momento tive contato com um rio que há muito eu não visitava. A memória foi a passagem que usei para viajar por praias, igarapés, com pescadores, catraieiros, meninos pulando da ponte. Percebi o quanto eu havia me distanciado do rio. Percebi que o rio estava morrendo era dentro de mim. Eu não reconhecia mais aquele rio, foi como um reencontro.
Este foi um momento de lúcida manifestação espiritual do rio na minha vida e principalmente no momento em que estava preparando a gravação de um documentário cujo personagem principal é o rio Acre. Outras tantas coincidências aconteceram, revelando aos poucos um rio bem diferente do que eu conhecia e do que eu imaginava conhecer. E tive um momento de grande esperança no processo ao me deparar cada vez mais com um rio vivo, muito vivo, embora maltratado. Mas as forças da natureza se encarregam de dar sempre um novo caminho, uma nova volta, um lago. O rio parece ser o maior veiculo de renovação da vida há muito tempo. Acho que o amor, o carinho, o encanto pelo rio não pode ser tratado somente com um discurso panfletário de que temos que salvar o rio que ta morrendo ou populista tipo... é assim mesmo, é ot progresso, etc... ou então aquele romantismo de que a cidade virou de costas pro rio. Um olhar um pouco mais atento e deixando aflorar as lembranças e desfrutando o prazer que a imagem do rio nos transmite seria um ótimo remédio para essa empatia.
O problema do rio Acre é o problema afetivo da população em relação a ele. Como me disse o Antônio Alves, este rio está se tornando um rio subterrâneo, muitos passam todos os dias sobre ele e não o vêem.
Silvio Margarido – 09/12/2008.
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